Dias após o aniversário de Angela Davis, o DACOR esteve presente em um ciclo de debates sobre a autora de “Liberdade é uma luta constante”, nos dias 30 e 31 de janeiro, em evento realizado pela Editora Boitempo e o Centro de Pesquisa e Formação do SESC São Paulo.
A trajetória, a obra e a militância de Angela Yvonne Davis foi debatida por grandes especialistas, todas mulheres, com especial ênfase aos diálogos que Davis vem travando com intelectuais e movimentos sociais brasileiros e reforçou a luta comunista, antirracista, feminista e revolucionária de Angela.
Apoio ao Brasil
Com o mote “Mudando as coisas que não se pode mudar”, o evento contou com nomes como Preta Ferreira, ativista por moradia, multiartista e escritora brasileira. Em 2019, Preta foi presa por mais de 100 dias por sua atuação no Movimento Sem Teto do Centro e na Frente de Luta por Moradia da cidade de São Paulo. Naquela época, ela foi visitada por Angela, para ouvi-la e somar-se à luta pela sua inocência.
Angela Davis também já foi presa. A ativista norte-americana permaneceu 16 meses na cadeia, no início dos anos 1970, e foi considerada uma das pessoas mais perigosas pelo governo estadunidense na época. “Acho que ser considerado um perigo para a sociedade não é um perigo para a sociedade em si, a sociedade dos excluídos. É um perigo para a sociedade patriarcal, para a sociedade da branquitude, para a sociedade que exclui corpos”, afirmou Preta, fazendo conexão de sua trajetória com a de Davis.
Outro apoio dado à luta política e social brasileira lembrado nas mesas foi à Marielle Franco. Depois de seu assassinato, Angela prestou apoio à familia de Marielle, pedindo justiça pela morte da vereadora do Rio.
Interseccionalidade
Em quase todos os painéis, as palestrantes questionaram o título de interseccional dado a Angela Davis. Isso porque a ativista debateu amplamente os temas de raça, classe e sexo – hoje entendido como gênero – mas o termo ‘intersecionalidade’ veio depois da produção da autora.
“Eu venho insistindo que a Angela Davis não é interseccional. Somos interseccionais porque todas nós mulheres negras entendemos que raça, classe e gênero são o tripé estruturante que fundamenta o mundo e as relações sociais. Mas a interseccionalidade é um campo disciplinar ideológico e de atuação que não foi, digamos assim, o território que formou Angela”, afirmou Rosane Borges, na mesa “Angela Davis, comunismo e o Partido dos Panteras Negras”, que também contou com a historiadora Raquel Barreto e com mediação da deputada estadual pelo Rio de Janeiro, Renata Souza.
Causa Palestina
O apoio de Angela à causa Palestina também foi destaque no evento com mesa “Angela Davis, internacionalismo e a causa Palestina”, que teve a participação da covereadora da Bancada Feminista do PSOL em São Paulo, Natália Chaves, a escritora e pesquisadora em antropologia Juliana Borges e mediada pela jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh.
“É importante discutir essa relação entre o internacionalismo,a luta por liberdade e a luta por liberdade do povo palestino. Nós só seremos livres, não há como um povo ser livre se há outro povo sendo subjugado. E a gente pode pensar que a própria Angela Davis experimentou na sua vida, na sua experiência de vida, o que significa a dimensão e a importância desses laços de solidariedade internacional”, relembrou Juliana.
Para acompanhar a riqueza de debates do evento, que ainda contou com mesas sobre a proximidade de Angela com o Panteras Negras, sua relação com o comunismo e sua análise sobre a Democracia, acesse o YouTube da Boitempo, na playlista abaixo: