
Em 2024, as eleições municipais mostraram avanços em relação à presença de pessoas negras na política, mas os dados ainda evidenciam uma realidade marcada pela desigualdade racial. Segundo o Mapa da Desigualdade do RenovaBR, apenas 46% dos vereadores eleitos se autodeclararam pretos ou pardos, um número que cresceu em relação ao pleito anterior, mas que ainda está abaixo dos 56% que essa parcela representa na população brasileira, segundo o IBGE.
Minoria no Congresso, prefeituras e câmaras
A população negra (pretos e pardos) representa 56,7% dos brasileiros. Ainda assim, esse grupo é minoria no Congresso, nas prefeituras e nas câmaras municipais. Esse abismo revela um sistema que não garante equidade na participação política.
Além disso, um estudo do GEMAA (UERJ) traz um alerta importante: quase 40% das candidaturas autodeclaradas como pretas, pardas ou indígenas não foram confirmadas por heteroclassificação racial, ou seja, não foram reconhecidas socialmente como pertencentes a esses grupos. Isso mostra que a autodeclaração racial, sozinha, não garante representatividade efetiva, e que o racismo também opera por meio da forma como os corpos são percebidos pela sociedade.
O Mapa da Desigualdade
O mapa mostra a proporção de vereadores pretos, pardos e indígenas (PPI) por município.
Municípios do Norte e Nordeste se destacam com maior presença de representantes PPI. Já o Sul e partes do Sudeste concentram as menores proporções.
Segundo o INESC, partidos destinam menos dinheiro a candidaturas negras. Sendo que os homens negros recebem 23,4% dos fundos, apesar de serem 30,2% dos candidatos e mulheres negras recebem 14,3% dos fundos, apesar de serem 18,1% das candidatura.
O resultado de tudo isso é claro: as vozes negras e indígenas continuam sendo minoria em espaços que decidem o futuro de suas próprias comunidades. Essa ausência impacta diretamente a formulação de políticas públicas, o investimento em territórios vulnerabilizados e a construção de uma democracia mais plural e inclusiva.
“Dos 513 deputados federais, 24 são negros. Dos 81 senadores, três são negros. Dos 5.570 prefeitos, 1.604 são negros. Dos 57.838 vereadores, 24.282, são negros. Dos governadores dos estados e do DF, nenhum é negro. Dos ministros do STF, nenhum é negro. Não dá mais para deixar de discutir e participar, sobretudo diante do cenário político em que vivemos.”
Tadeu Kaçula, presidente do Núcleo de Pesquisas Clóvis Moura da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo