Dispositivo de Racialidade: compreendendo o racismo estrutural a partir da obra de Sueli Carneiro

O dispositivo de racialidade é um conjunto de práticas, discursos e mecanismos que fazem com que a população negra seja colocada em uma posição de subordinação na sociedade brasileira. Mesmo mesmo sem leis formais de segregação, ele se mantém vivo por meio de discursos científicos, jurídicos, educacionais e culturais que reforçam a ideia da superioridade branca e da inferioridade negra.

Sueli carneiro

Sueli Carneiro é uma das maiores pensadoras brasileiras. Filósofa, ativista do movimento negro e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, ela dedica sua vida à luta contra o racismo e o sexismo. Sueli transformou suas experiências e seu conhecimento em ferramentas para entender e combater as desigualdades no Brasil.

A história

O dispositivo opera a partir de uma lógica que define quem merece viver com dignidade e quem pode ser descartado. É o que Sueli Carneiro explica ao usar o conceito de biopoder de Foucault, que é o poder de “fazer viver e deixar morrer”. Na prática, significa que a sociedade organiza suas estruturas para proteger alguns corpos (geralmente brancos), e negligenciar outros, os corpos negros, indígenas e periféricos.

O contrato racial

O dispositivo é sustentado por algo chamado Contrato Racial, conceito do filósofo Charles Mills. É como se existisse um acordo não escrito que garante privilégios às pessoas brancas, enquanto as pessoas negras ficam com as piores condições de vida, trabalho, saúde e educação. Esse contrato é naturalizado, ou seja, quem se beneficia muitas vezes nem percebe que faz parte desse sistema de opressão.

Epistemicídio

Um dos pilares do Dispositivo de Racialidade é o epistemicídio, a destruição dos saberes, das histórias e das culturas negras. Isso acontece quando a escola não ensina a história da África, quando desvaloriza a contribuição das populações negras e quando trata o conhecimento europeu como o único válido. Esse apagamento gera impactos profundos na autoestima, na formação e na identidade da população negra.

O dispositivo no dia a dia

Sueli Carneiro explica que esse dispositivo não está só no discurso, mas nas práticas do dia a dia. Por exemplo, no sistema de saúde, muitas vidas negras são colocadas em risco. Além disso, mulheres negras sofrem mais violência obstétrica e têm menos acesso a tratamentos de qualidade. Isso não é coincidência, é o racismo operando na prática.

Como funciona na prática?

O dispositivo de racialidade atua em diferentes esferas:

1.⁠ ⁠No sistema de justiça – criminalização maior da população negra;

2.⁠ ⁠No mercado de trabalho – barreiras à ascensão profissional de pessoas negras;

3.⁠ ⁠Na educação – falta de representação e evasão escolar desigual;

4.⁠ ⁠Na mídia – estereótipos racistas e apagamento de narrativas negras.

O dispositivo na educação

A educação é um dos principais espaços no qual o dispositivo de racialidade opera, mas também é um dos maiores espaços de resistência. É pela educação que o povo negro combate o apagamento, resgata sua história e afirma sua humanidade. Sueli Carneiro, junto com pensadoras como Bell Hooks, defende uma educação antirracista, libertadora e que forme pessoas críticas, conscientes e capazes de transformar a sociedade.

Sueli Carneiro reforça que o racismo não é apenas um preconceito individual, mas um sistema que molda a realidade. Entender a racialidade como um dispositivo ajuda a desnaturalizar as opressões e a exigir transformações profundas nas estruturas sociais.

DACOR Indica

Curso gratuito e online “Dispositivo de Racialidade”, disponível na plataforma do Sesc Digital EAD, produzido em parceria com a Casa Sueli Carneiro. Indicamos também a leitura do livro “Dispositivo de Racialidade”, de Sueli Carneiro