No dia 1º de maio, celebramos o Dia da Literatura Brasileira. Essa é uma data importante para valorizarmos a produção literária nacional, mas também um convite à reflexão: quem são os autores celebrados quando falamos em “literatura brasileira”?
A literatura brasileira é uma forma poderosa de entender a nossa história, nossa cultura e as muitas realidades que convivem no país. Por meio dos livros, conhecemos o modo de viver, pensar e sentir de diferentes grupos sociais, e podemos refletir sobre temas como desigualdade, identidade, racismo e resistência.
Neste Dia da Literatura Brasileira, convidamos você a conhecer escritores e escritoras negros que fazem parte da construção da nossa tradição literária. Suas obras ampliam o entendimento sobre o Brasil, abordando temas essenciais como cultura e pertencimento. Ao reconhecer suas trajetórias e produções, valorizamos uma literatura que é diversa, plural e profundamente enraizada na história do país.
Machado de Assis (1839–1908)

Poucos sabem que Machado de Assis, fundador da Academia Brasileira de Letras e autor de obras-primas como Memórias Póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro, era um homem negro. Filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira, Machado enfrentou o racismo e as barreiras sociais do século XIX para se tornar o maior escritor da literatura nacional. Sua obra, sofisticada e irônica, é ainda hoje uma das mais estudadas e traduzidas do Brasil.
Obra recomendada: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881)
Maria Carolina de Jesus (1914–1977)

Carolina de Jesus foi uma das primeiras escritoras negras a ganhar projeção nacional e internacional no Brasil. Moradora de uma favela em São Paulo e catadora de papel, escrevia sobre sua rotina, sua luta pela sobrevivência e sua visão crítica da sociedade. Sua linguagem direta e impactante chamou a atenção de um jornalista, que ajudou a publicar seu diário.
A publicação de Quarto de Despejo, em 1960, teve enorme repercussão. Carolina deu visibilidade à experiência da mulher negra, pobre e periférica, revelando uma realidade até então ignorada nos meios literários e intelectuais. Sua obra é considerada um marco na literatura brasileira.
Obra recomendada:Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada (1960)
Joel Rufino dos Santos (1941–2015)

Joel Rufino dos Santos foi escritor, historiador, professor e ativista. Com uma carreira marcada pela defesa dos direitos humanos e da educação, ele produziu uma obra ampla, que inclui literatura infantil, contos, romances e ensaios históricos. Em seus textos, destacava a contribuição da população negra para a formação do Brasil e valorizava figuras históricas esquecidas.
Ele foi um dos primeiros intelectuais a propor uma reinterpretação da história oficial, incluindo as vozes dos negros, indígenas e pobres. Sua produção é uma referência para quem busca uma leitura crítica e democrática da cultura brasileira.
Obra recomendada: Na Rua do Sabão (1976)
Conceição Evaristo

Conceição Evaristo é uma das mais importantes escritoras contemporâneas do Brasil. Nascida em uma favela de Belo Horizonte, formou-se em Letras e fez doutorado em Literatura Comparada. Ela é autora do conceito de escrevivência, que define sua escrita como fruto das experiências vividas, especialmente pelas mulheres negras.
Sua literatura mistura dor, afeto, ancestralidade e resistência. Conceição escreve sobre temas como racismo, desigualdade e a força das relações familiares e comunitárias. Suas personagens negras são retratadas com dignidade e profundidade, contribuindo para a construção de uma literatura mais representativa.
Obra recomendada: Olhos d’Água (2014)
Lima Barreto (1881–1922)

Lima Barreto foi um jornalista e escritor que usou a literatura para criticar o racismo, a burocracia e o autoritarismo no Brasil do início do século XX. Filho de pais negros libertos, sofreu com o preconceito racial e social ao longo da vida. Apesar disso, sua obra teve grande impacto pela forma como expôs as contradições da sociedade republicana.
Seus personagens geralmente eram pessoas comuns, que enfrentavam dificuldades em um país desigual. Ele questionava o ideal de progresso e denunciava as injustiças vividas pelas classes populares. Hoje, Lima Barreto é reconhecido como um dos autores mais importantes da literatura brasileira.
Obra recomendada: Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915)
Ruth Guimarães (1920–2014)

Ruth Guimarães foi a primeira mulher negra a publicar um romance no Brasil. Nascida no interior de São Paulo, sua escrita valorizava a cultura popular e as tradições afro-brasileiras. Foi também tradutora, jornalista, folclorista e pesquisadora de histórias orais e saberes populares.
Sua obra combina o lirismo da vida rural com a força das narrativas tradicionais. Ruth resgatou contos e lendas que fazem parte da cultura nacional, e sua escrita é reconhecida pela beleza e simplicidade com que retrata o povo brasileiro.
Obra recomendada: Água Funda (1946)