Desde o século XVIII, homens negros utilizavam a moda como ferramenta de afirmação. Durante o século XIX, figuras como Frederick Douglass se vestiam com sofisticação para reivindicar dignidade e desafiar a opressão racial.
Esse movimento cultural é conhecido como dandismo negro, uma forma de expressão estética e política em que homens negros usam a sofisticação e a moda como afirmação de identidade, orgulho e resistência. Não se trata apenas de aparência, mas de um posicionamento que desafia estereótipos e reverte narrativas coloniais.

O dandismo se espalhou por diferentes países e contextos. No movimento Harlem Renaissance, nos anos 1920, a moda negra era parte da produção artística e intelectual. No Congo, os sapeurs usam alfaiataria colorida como arte e protesto. Nos EUA dos anos 1940, o Zoot Suit era símbolo de identidade e rebeldia.
Muito além da vaidade
O dandismo negro não se trata apenas de estética ou vaidade. Trata-se de um posicionamento político e cultural. Ao adotar a elegância como forma de expressão, homens negros desafiam estereótipos historicamente associados à pobreza, marginalidade ou violência. O estilo torna-se, assim, uma forma de se reapropriar da própria imagem e reverter narrativas coloniais.
O pesquisador britânico Richard J. Powell, no livro Cutting a Figure: Fashioning Black Portraiture (University of Chicago Press, 2008), analisa como a moda tem sido usada por pessoas negras como ferramenta de luta e reconstrução da identidade. Powell mostra que, ao longo dos séculos, a sofisticação no vestir foi uma forma de disputar o olhar e reconstruir a representação do corpo negro na esfera pública.
O Dandismo hoje

O tema do Met Gala 2025, evento beneficente no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, conecta o dandismo negro ao presente, destacando como a moda masculina preta molda estilo e resistência. A exposição “Superfine: Tailoring Black Style” valoriza a criatividade da diáspora africana e celebra a construção de identidade por meio da roupa.
O evento tem como anfitriões Colman Domingo, Lewis Hamilton, A$AP Rocky, Pharrell Williams e Anna Wintour; LeBron James será o presidente honorário.
O tema do Met é Inspirado no livro “Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity”, de Monica L. Miller, que também atua como curadora convidada ao lado do curador-chefe Andrew Bolton.
O evento abre uma mostra no museu com o tema do Met Gala. A exposição reúne peças de Virgil Abloh, Dapper Dan e Pharrell Williams, conectando a moda negra a expressões culturais históricas como as descritas por Zora Neale Hurston sobre expressão cultural negra, marcada por ritmo, improviso, dramatização e ornamentação.