DACOR no Oceano e no Labirinto dos Dados

Para um Instituto que traz como um dos objetivos o mapeamento, a geração, a reunião e a disseminação de conteúdos e conhecimentos sobre o racismo no Brasil, a escolha pela elaboração de um mapa de dados como o primeiro trabalho por si só já se justificaria. Mas a proposta do DACOR não é, jamais será, trazer tão somente um olhar superficial, nem tampouco se satisfazer com justificativa(s), apenas. É, sim, de um constante aprofundar-se para se buscar a compreensão do porque as coisas são como são. Inclusive, um dos diferenciais do DACOR é, para além de um inconformismo puro e simples, também, propor soluções para a equidade racial, tanto na esfera pública quanto na privada. Ou seja, para um Instituto que tem como objetivo principal ser referência em dados e evidências para  o fim do racismo no Brasil, o caminho é longo e espinhoso, e sua construção passa por alguns pilares essenciais. Dentre eles, especificamente os dados sobre o racismo e a população negra no Brasil. Assim, quando se fala em dados, surge uma primeira, e inevitável, questão: Onde eles estão? Seguida por outras: Quem os coletou? Quem os analisou? De que forma foram publicizados? São várias questões que podem – e devem – ser levantadas. Porém, quando se fala em dados, há dois problemas principais e iniciais que consideramos. O primeiro refere-se à dispersão dos dados por sites, plataformas, publicações, etc. Quando digitamos no campo de busca do navegador de nossa preferência, por exemplo, o termo “população carcerária negra”, será aberta uma enorme quantidade de páginas com um sem número de links que, quando acessados, ainda podem conter outros tantos e tantos links, e isso sem contar as indicações de “pesquisas relacionadas” que aparecem ao final da página. Ou seja, é um oceano de informações que termina por exigir do pesquisador, além do tempo, a paciência e o cuidado para encontrar um conjunto de dados específicos, necessários e confiáveis para a confecção de uma matéria ou artigo científico, por exemplo. É como se ele estivesse em mar aberto, dando braçadas e mais braçadas para todo e qualquer lado, o que ele considera, até, que lhes sejam úteis, mas que, muitas vezes, vão fazê-lo voltar ao mesmo lugar. O segundo problema diz respeito à arquitetura de determinados sites ou portais onde, contrariamente a uma condição de dispersão dos dados, os mesmos encontram-se ali concentrados. Você, que lê esse texto, já tentou se enveredar pelos caminhos dos sites, por exemplo, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) ou do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico)? E isso para ficar apenas em dois, muito importantes, diga-se. Por certo, ao se clicar nos links, nos links dentro dos links, nos resultados, tabelas, quadros, etc., você poderá, em algumas situações, tamanho os ziguezagues incessantes que se apresentam à sua frente, considerar que será melhor recomeçar o processo em outro momento. Mal comparando, é como se o site fosse um labirinto, e nós, feito um Teseu, temos que adentrar nele para matar o Minotauro, ou seja, encontrar os dados. A diferença entre nós e Teseu é que, para além do novelo de lã, que serviria de guia, ele possuía, também, a espada, entregue por sua amada Ariadne, para que ele pudesse entrar no labirinto e matar o Minotauro. Sair do nosso labirinto é fácil: basta apertarmos o “x” no canto superior direito da guia. Porém, o “matar” o “nosso Minotauro”, em muitas ocasiões, exige um trabalho exaustivo. O fato é que, seja pela sensação de imensidão, seja pela sensação de caos, encontradas na busca por dados, prejuízos são gerados, como por exemplo, quanto ao tempo gasto e à efetividade da consulta. Assim, nós, do DACOR, com a criação de um mapa de dados, pretendemos, em um primeiro momento, gerar um facilitador para quem deseja buscar dados acerca do racismo e da população negra no Brasil. E com tal afirmação, queremos dizer que, em pouco tempo, “tudo” estará nesse mapa? Claro que não. Mesmo porque sua construção é permanente. Mas, por certo, esse mapa de dados, já em sua publicação inicial, trará um substancial conteúdo e, quiçá, venha, com o passar do tempo, a se constituir em uma referência para qualquer pessoa que tenha como norte a busca de dados sobre população negra em nosso país.

Alexandre Dantas

Co-fundador do DACOR. Doutor e Mestre em Sociologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”- UNESP – Araraquara. Docente por mais de 20 anos na PUC– Minas. É autor de “Vão e Desgraçado (e outros contos tão desimportantes quanto)”, publicado pela editora Urutau, em 2018.