Cultura Ballroom: uma história de arte, resistência e acolhimento LGBTQIAPN+

Mais do que performance e estética, a ballroom é uma forma de resistência coletiva criada por pessoas negras, latinas e LGBTQIAPN+ que foram sistematicamente excluídas dos espaços artísticos e sociais. Sua origem remonta aos anos 1970 em Nova York, com figuras como Crystal LaBeija, mulher trans negra que fundou a House of LaBeija após sofrer racismo em concursos drag dominados por brancos.

História

A ballroom é uma expressão cultural criada por pessoas LGBT+ negras e latinas nos Estados Unidos, a partir da década de 1970, como resposta à exclusão nos espaços brancos. Mais do que festas, ela surgiu como um movimento político de resistência, acolhimento e afirmação de identidade.

Voguing

O voguing surgiu dentro das ballrooms como uma forma de dança inspirada em poses de revista e movimentos geométricos. Tornou-se uma linguagem visual potente, usada para contar histórias, jogar crítica e afirmar corpos dissidentes com orgulho e beleza.

Espaços de acolhimento

Nos anos 1980, durante a epidemia de AIDS, a comunidade LGBT+ enfrentou exclusão do sistema de saúde e apoio familiar. Nas ballrooms, encontravam espaços de suporte mútuo, cuidado e informação em saúde, fortalecidos pelas estruturas das houses.

Enquanto o poder público ignorava a epidemia, especialmente entre populações negras e trans, as houses criaram estratégias de cuidado, informação e suporte emocional. Até hoje, dados mostram que pessoas trans negras continuam entre os grupos mais vulnerabilizados: segundo a ANTRA (2023), 82% das travestis e mulheres trans no Brasil não têm acesso ao mercado formal de trabalho.

As houses

As houses (casas) são famílias escolhidas dentro da cultura ballroom. Elas foram criadas para acolher pessoas LGBTQIAPN+, que foram expulsas de casa ou vivem em contextos de vulnerabilidade. Cada house é liderada por uma “mãe” ou “pai”, que cuidam e protegem seus integrantes. Juntas, essas pessoas formam uma rede de apoio afetivo, político e artístico. Nas balls, as houses competem entre si, mostrando performances, looks e coreografias, mas fora do palco, elas funcionam como espaços de afeto e pertencimento.

No brasil

No Brasil, a cultura ballroom começou a se estruturar a partir de 2015. A primeira ball aconteceu em Brasília, e logo surgiram houses em São Paulo, Salvador, Recife e outras cidades. Aqui, a ballroom se conecta com o passinho, o funk, a cultura de favela e as lutas raciais e de gênero. É cultura preta, periférica e queer em movimento.

Ballroom é arte, mas também é denúncia. Em cada desfile, performance ou batalha, há uma mensagem: a de que corpos negros, trans, travestis e periféricos existem, resistem e criam. A cena funciona como escola política: nela se discute gênero, raça, saúde, história e direitos. É cultura viva e transformadora.

DACOR Indica

O DACOR Indica a série “Pose”, disponível na Apple TV e Disney+, que retrata a cultura ballroom na cidade de Nova Iorque, nas décadas de 1980 e 1990, com foco nas comunidades LGBTQIAPN+ afro-americanas e latinas.