Em um país marcado por desigualdades históricas, a população LGBTQIA+ negra enfrenta uma realidade na qual o racismo e a LGBTfobia se cruzam e tornam ainda mais urgentes as ações por justiça e equidade.
A realidade: números alarmantes
A intersecção entre racismo e LGBTfobia faz com que pessoas negras LGBTQIAP+ sejam as principais vítimas de violência no Brasil. São elas que mais sofrem agressões físicas, verbais e psicológicas — e também as que mais aparecem nas estatísticas de assassinatos.
Seja qual for a letra da sigla, quem mais sofre é a população preta:
Mulheres trans negras: 58% das vítimas
Homens trans negros: 56%
Homens gays e lésbicas negros: 55,3%
Pessoas bissexuais negras: 52,2% das vítimas
O recorte racial fica ainda mais evidente entre as travestis. De acordo com o Atlas da Violência 2023, 65% das vítimas de violência neste grupo são pretas. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) aponta que, em 2023, 72% das travestis assassinadas no Brasil eram negras.
O discurso de ódio
O discurso de ódio também é massivo. Oito em cada dez pessoas negras LGBTQIAP+ já foram alvo de ataques, segundo uma análise feita pela data_labe em parceria com a Internews.
15% apenas online.
7% apenas presencial.
45% nas duas formas.
Em São Paulo, entre 2015 e 2023:
De acordo com o estudo “Violência LGBTFóbica na Cidade de São Paulo”, do Instituto Pólis, 55% das vítimas de LGBTfobia pertenciam à população preta, e 79% das vítimas de violência policial eram negras.
Na saúde
Um estudo do Hospital Israelita Albert Einstein, USP e Universidade de São Caetano do Sul mostra que, enquanto apenas 17% das pessoas cisgêneras e heterossexuais brancas com mais de 50 anos relataram dificuldades de acesso à saúde, esse número sobe para 41% entre pessoas negras e LGBTQIAPN+ da mesma faixa etária.
No mercado de trabalho
25% das pessoas LGBTQIA+ negras no país atuam na informalidade, frente a 14% entre os LGBTQIA+ brancos (Vote LGBT). A renda média também é menor: cerca de 40% inferior.
Entre pessoas trans, em 2020, apenas 13,9% das mulheres trans tinham emprego formal, enquanto 59,4% dos homens trans estavam empregados formalmente.
A importância dos dados
Ainda são poucas as informações sobre áreas específicas como saúde, educação e mercado de trabalho.
Dados que cruzem gênero, sexualidade e raça são essenciais para que políticas públicas específicas e efetivas possam atender essa população de forma adequada.