{"id":6480,"date":"2024-07-04T17:08:07","date_gmt":"2024-07-04T20:08:07","guid":{"rendered":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/?p=6480"},"modified":"2024-07-04T17:16:08","modified_gmt":"2024-07-04T20:16:08","slug":"jairo-malta-uma-voz-da-cultura-periferica","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/jairo-malta-uma-voz-da-cultura-periferica\/","title":{"rendered":"Jairo Malta: uma voz da cultura perif\u00e9rica"},"content":{"rendered":"\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t
\n\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t
\n\t\t\t

Criador do blog Sons da Perifa, o designer, fot\u00f3grafo e jornalista compartilha sua trajet\u00f3ria e destaca a import\u00e2ncia de dar visibilidade \u00e0s quest\u00f5es das periferias<\/span><\/span><\/h2>\t\t<\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/section>\n\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t
\n\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t

Por Dandara Fonseca<\/em><\/h2>

Nascido no Graja\u00fa, maior bairro da cidade de S\u00e3o Paulo, Jairo Malta cresceu vendo de perto a viol\u00eancia dos anos 90. Tamb\u00e9m enfrentou in\u00fameros epis\u00f3dios de racismo, apesar de s\u00f3 ter tomado plena consci\u00eancia disso alguns anos depois. Sua perspectiva de mundo come\u00e7ou a se expandir quando iniciou sua carreira como designer, o que lhe permitiu descobrir novos sons, conhecer novos lugares e viver novas experi\u00eancias.
Atualmente, Jairo tamb\u00e9m trabalha como jornalista e \u00e9 o criador do blog Sons da Perifa, da Folha de S.Paulo. Recentemente, fundou a Corre, uma consultoria destinada a fomentar projetos das periferias. Conforme ele mesmo define, seus principais objetivos s\u00e3o \u201cjogar luz nas pautas perif\u00e9ricas, questionar e trazer solu\u00e7\u00f5es \u2014 ou mais problemas, mas problemas importantes\u201d. Aqui, ele compartilha a sua hist\u00f3ria com o Dacor.<\/p>

Dacor. Me conta um pouco de onde voc\u00ea veio: onde nasceu, cresceu, quem estava \u00e0 sua volta nesse momento?<\/h2>


Jairo. Eu nasci h\u00e1 36 anos atr\u00e1s, em 1988, no Graja\u00fa, extremo sul de S\u00e3o Paulo. Venho de uma fam\u00edlia com muitas mulheres. Minha av\u00f3 veio de Sergipe no final dos anos 60, quando o Graja\u00fa ainda era uma \u00e1rea rural, e viu a regi\u00e3o se transformar no que \u00e9 hoje: o maior bairro da cidade. Cresci l\u00e1, ao lado dos meus pais e irm\u00e3s, durante o auge da criminalidade dos anos 90, \u00e9poca em que come\u00e7ava a se formar o que viria a ser o PCC. Tive parentes e amigos presos, visitava muitos pres\u00eddios.<\/p>


E voc\u00ea sempre gostou de desenhar e escrever?<\/h2>

Meu pai \u00e9 desenhista Meu pai \u00e9 desenhista t\u00eaxtil e minha m\u00e3e \u00e9 costureira. Talvez por isso eu tenha seguido o caminho das artes. Primeiro, fiz um curso de design. Depois, cursei artes visuais na ECA. Foi ali que come\u00e7ou minha trajet\u00f3ria profissional. Em 2005, entrei na Gazeta de Interlagos e, em 2007, fui para a Editora Globo, onde fiquei quase dois anos na revista Quem. Sa\u00ed de l\u00e1 e fui trabalhar como designer gr\u00e1fico para a socialite Joyce Pascovitch.<\/p>

E como foi esse choque de realidades?<\/h2>

Uma maluquice, n\u00e9? A gente que \u00e9 pobre e perif\u00e9rico passa a vida vendo crime todo dia. Em 2009, fui convidado para cobrir o Carnaval de Salvador, e realmente entendi que o mundo era muito maior que o Graja\u00fa. Conheci Gilberto Gil, Caetano Veloso, Quincy Jones\u2026 Descobri que o cara que canta “Thriller” \u00e9 o Michael Jackson. Todo esse universo foi um estopim na minha vida, e comecei a pesquisar sobre m\u00fasica e tudo que me interessa hoje.<\/p>

Conta um pouco mais sobre as suas experi\u00eancias profissionais? Trabalho anos com a Joana e acabo me direcionando mais para a dire\u00e7\u00e3o de arte, o que me leva a fazer dire\u00e7\u00e3o de fotografia para atores globais. Era uma semana com o Calum Reymond, outra com a Paola Oliveira. Depois de um tempo, recebo uma proposta da Folha de S.Paulo para reformular o caderno Ilustrada. Passo dois anos trabalhando nas capas desse jornal de mais de cem anos de idade. Ao mesmo tempo que \u00e9 um dos per\u00edodos onde mais me coloco \u00e0 prova, \u00e9 tamb\u00e9m muito desgastante.<\/p>

E quando o jornalismo surge na sua vida?<\/h2>

J\u00e1 escrevia colunas de opini\u00e3o para a Folha, sempre sobre temas relacionados \u00e0 negritude. Ent\u00e3o surge a oportunidade de fazer o trainee da Folha, viro jornalista e passo a escrever para o Sons da Periferia. \u00c9 uma loucura, me ferro bastante, mas a visibilidade \u00e9 muito grande, o que \u00e9 muito bom. Acredito que a maioria das pessoas negras e perif\u00e9ricas t\u00eam essa mentalidade de que precisam trabalhar muito mais do que as pessoas brancas, se colocar muito mais. \u00c9 uma l\u00f3gica escravocrata, de ter que se mostrar valioso para o patr\u00e3o, mas \u00e9 a verdade.<\/p>

Ter nascido na periferia fez com que voc\u00ea tivesse no\u00e7\u00e3o das quest\u00f5es raciais desde pequeno?
N\u00e3o, e \u00e9 muito doido isso, porque vivi epis\u00f3dios de racismo bem pesados ao longo da vida. Um exemplo: sempre que ia para a casa de um amigo que morava perto eu levava o meu videogame \u2014 viv\u00edamos um pequeno momento de ascens\u00e3o social, meu pai estava trabalhando como taxista. Ele foi me buscar de manh\u00e3 e, na volta, a pol\u00edcia parou o carro, colocou meu pai, que \u00e9 um pouco mais claro que eu, de lado, e me imobilizou. Meu pai explicou que eu era filho dele, e os policiais disseram que havia uma suspeita de sequestro na regi\u00e3o. Eu tinha 13 anos. Essa \u00e9 apenas uma das coisas que passei.<\/p>

E quando voc\u00ea come\u00e7ou a se identificar como um homem negro?<\/h2>

S\u00f3 aos 29 anos, quando li uma mat\u00e9ria da jornalista Julia Reis para a Vice sobre como ela se descobriu negra, tive essa consci\u00eancia e comecei a conversar com outros amigos sobre o assunto. Isso prova como um texto pode impactar a vida de uma pessoa. \u00c0s vezes, escrevo algo e acho besteira, mas logo depois recebo a mensagem de um menino que nunca vi na vida. Ou estou em um rol\u00ea, e algu\u00e9m me diz que sabe quem eu sou, que curte meu trabalho, que gosta do Sons da Perifa.<\/p>\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/section>\n\t\t\t\t

\n\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t
\n\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\"\"\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/section>\n\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t
\n\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t\t
\n\t\t\t\t
\n\t\t\t\t\t\t\t

Ali\u00e1s, como surgiu o Sons da Periferia?<\/b><\/h2>

A cria\u00e7\u00e3o do Sons da Perifa n\u00e3o foi necessariamente para falar com a periferia, mas para levar o discurso e as movimenta\u00e7\u00f5es perif\u00e9ricas a um grande p\u00fablico que normalmente n\u00e3o tem acesso por conta do racismo e da branquitude. Hoje, acredito que o blog tamb\u00e9m se encontra num lugar de denunciar quest\u00f5es relacionadas ao racismo e ao papel do Estado. \u00c9 um espa\u00e7o dedicado \u00e0 informa\u00e7\u00e3o e ao questionamento.<\/span><\/p>

Sua rela\u00e7\u00e3o com a m\u00fasica j\u00e1 era intensa? Sua fam\u00edlia tocava, ouvia muita m\u00fasica?\u00a0<\/b><\/h2>

N\u00e3o, minha fam\u00edlia toda \u00e9 religiosa, e eu fui criado como Testemunha de Jeov\u00e1. Assim como muitos da minha gera\u00e7\u00e3o, sou formado pela MTV, ouvia Britney Spears, pop e tudo mais que tocasse no canal. J\u00e1 na escola, fazia parte do grupo do punk rock. Ali\u00e1s, descobri recentemente uma coisa interessante: o Mr. Catra falava v\u00e1rias l\u00ednguas, era advogado e guitarrista de uma banda de rock. S\u00f3 depois ele virou rapper e, em seguida, funkeiro. Mas nossa cria\u00e7\u00e3o nos anos 90 era assim, a gente ouvia de tudo.<\/span><\/p>

E o rap, j\u00e1 era presente na sua vida?<\/b><\/h2>

Mais ou menos. Sinceramente, era muito bad vibes ouvir algo como Racionais naquele momento. Pra que ouvir \u201cSobrevivendo no Inferno\u201d se voc\u00ea v\u00ea gente morta na rua todos os dias? J\u00e1 \u00e9 parte da sua vida cotidiana, de certa forma. Eu preferia ouvir RZO, Ndee Naldinho… S\u00f3 comecei a ouvir Racionais depois de 2003, quando lan\u00e7aram \u201cNegodrama\u201d.<\/span><\/p>

Como \u00e9 ser um jornalista negro nos dias de hoje?<\/b><\/h2>

\u00c9 \u00f3timo poder alcan\u00e7ar muitas pessoas com meus textos e aproveitar as oportunidades que surgem, como participar do Roda Viva. Mas muitas vezes acabo me tornando um especialista em assuntos relacionados \u00e0 negritude. Recebo muitos livros, e todos est\u00e3o de alguma forma ligados \u00e0 quest\u00e3o racial. Se acontece algo com uma pessoa negra, costumam chamar um dos quatro jornalistas negros da reda\u00e7\u00e3o. N\u00f3s podemos e devemos falar sobre outras coisas, at\u00e9 mesmo al\u00e9m da cultura e dos esportes \u2014 como economia, pol\u00edtica, mercado e muito mais.<\/span><\/p>

E qual a import\u00e2ncia de ter pessoas pretas no jornalismo?<\/b><\/h2>

Hoje, quando um garoto branco morre, a hist\u00f3ria dele \u00e9 contada em todos os lugares, porque os jornalistas se identificam. N\u00e3o existem muitas pessoas negras em jornais de grande circula\u00e7\u00e3o, o que faz com que as mortes de garotos perif\u00e9ricos acabem se tornando apenas mais um caso cotidiano. Por isso, \u00e9 crucial ter jornalistas de diferentes contextos e viv\u00eancias. Essa \u00e9 uma dificuldade que as pr\u00f3ximas gera\u00e7\u00f5es ainda ter\u00e3o que enfrentar.<\/span><\/p>

Como a grande m\u00eddia pode ajudar no combate ao racismo?<\/b><\/h2>

Eu acho que ela n\u00e3o deve apenas ajudar, mas sim ser um dos principais envolvidos. A grande m\u00eddia deve dar destaque a esse tema, noticiando desde pessoas famosas que cometem crimes racistas at\u00e9 situa\u00e7\u00f5es como mortes e a estigmatiza\u00e7\u00e3o da periferia como violenta. \u00c9 essencial que a m\u00eddia esteja engajada nessa luta.<\/span><\/p>

Voc\u00ea est\u00e1 com um novo projeto, a Corre. Conta um pouco mais sobre ele pra gente?<\/b><\/h2>

A Corre \u00e9 uma consultoria perif\u00e9rica que eu, Mateus Fernandes e Guilherme Macedo criamos. Observamos uma grande dificuldade das organiza\u00e7\u00f5es e projetos da periferia em obter recursos para se desenvolver e realizar seus objetivos. Por isso, decidimos unir nossas habilidades e contatos para criar uma consultoria formada por negros da periferia. Estamos tamb\u00e9m buscando organiza\u00e7\u00f5es de diferentes regi\u00f5es do Brasil para compor nossa rede nacional de Projetos Sociais, que ser\u00e3o contatados para parcerias, eventos e projetos remunerados.<\/span><\/p>

Voc\u00ea consegue definir, quais s\u00e3o, hoje, os principais objetivos do seu trabalho?<\/b><\/h2>

Meu trabalho hoje \u00e9 voltado para o bem-estar da periferia, embora n\u00e3o possa abra\u00e7ar todas as quebradas do Brasil, pois sou apenas um perif\u00e9rico. Meu principal objetivo \u00e9 levar visibilidade \u00e0s quest\u00f5es relacionadas a essas regi\u00f5es, seja atrav\u00e9s do jornalismo ou de organiza\u00e7\u00f5es. Quero questionar o que est\u00e1 posto, estimular reflex\u00f5es e di\u00e1logos, e apresentar solu\u00e7\u00f5es \u2014 ou ent\u00e3o problemas, mas problemas importantes.<\/span><\/p>

Como voc\u00ea acha que os dados podem ajudar na luta contra o racismo?<\/b><\/h2>

Uma popula\u00e7\u00e3o sem dados \u00e9 uma popula\u00e7\u00e3o que n\u00e3o existe. S\u00e3o os dados que nos permitem avaliar se estamos progredindo ou regredindo, al\u00e9m de avaliar o impacto das pol\u00edticas p\u00fablicas. Um exemplo: nos \u00faltimos anos, o n\u00famero de pessoas negras aumentou no Brasil. Mas como isso ocorreu? Ser\u00e1 que mais pessoas est\u00e3o se reconhecendo dessa cor? Como elas entendem o racismo? Existem constru\u00e7\u00f5es que dependem de dados, pesquisa e informa\u00e7\u00f5es. O combate ao racismo \u00e9 uma delas.<\/span>

<\/p>\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/div>\n\t\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t<\/section>\n\t\t\t\t\t\t\t<\/div>\n\t\t","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Criador do blog Sons da Perifa, o designer, fot\u00f3grafo e jornalista compartilha sua trajet\u00f3ria e destaca a import\u00e2ncia de dar visibilidade \u00e0s quest\u00f5es das periferias Por Dandara Fonseca Nascido no Graja\u00fa, maior bairro da cidade de S\u00e3o Paulo, Jairo Malta cresceu vendo de perto a viol\u00eancia dos anos 90. Tamb\u00e9m enfrentou in\u00fameros epis\u00f3dios de racismo, […]<\/p>\n","protected":false},"author":6,"featured_media":6481,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[8,1],"tags":[],"class_list":["post-6480","post","type-post","status-publish","format-standard","has-post-thumbnail","hentry","category-disseminacao-de-conhecimento","category-nao-categorizado","entry","has-media"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6480"}],"collection":[{"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/6"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=6480"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/6480\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/6481"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=6480"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=6480"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/institutodacor.ong.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=6480"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}