Preta Gil: mulher negra, livre e revolucionária até o fim.

Desafiou padrões, rompeu silêncios e fez da arte um instrumento de resistência. Sua existência foi um ato político e amoroso.

Preta Gil nos deixou no dia 20 de julho de 2025, mas sua voz segue viva. Cantora, atriz, apresentadora e empresária, Preta foi uma mulher negra que desafiou padrões, rompeu silêncios e fez da arte e da vida uma trincheira contra o racismo, o machismo e a gordofobia.

“A gente vive uma grande farsa no nosso país no que diz respeito à democracia racial. Vivemos uma disparidade. Estamos começando a emergir, se unir, mas ainda é tudo muito difícil. Temos que realmente provocar para as instituições contarem a nossa história de verdade.”

Preta Gil ao Power Trip Summit, em 2022.

Filha do mestre Gilberto Gil, tendo Caetano e Gal como padrinhos, Preta construiu sua própria trajetória, marcada por autenticidade e coragem. Desde o início da carreira, nos anos 2000, recusou-se a se encaixar em estereótipos. Assumiu seu corpo, seu desejo, sua negritude e sua potência, tornando-se um símbolo de liberdade e empoderamento para muitas mulheres brasileiras.

“Vi o meu corpo sendo atacado logo no início da minha carreira. E foi a partir daí que eu entendi que o meu corpo é político, que ele fala sobre a opressão que as mulheres sofrem no Brasil e no mundo.”

Preta Gil em entrevista à Marie Claire.

Mais do que artista, foi uma ativista. Em suas redes, nos palcos e nos debates públicos, posicionou-se com firmeza contra o racismo estrutural, contra a os padrões impostos pela sociedade, defendeu os direitos da população LGBTQIAPN+ e denunciou as violências que atravessam os corpos negros no Brasil. Em 2023, quando enfrentou um câncer no intestino, falou abertamente sobre saúde, cuidado e afeto, reforçando o direito à vulnerabilidade em uma sociedade que espera força inabalável de mulheres negras.

Preta Gil também fundou o “Bloco da Preta”, um dos maiores blocos de Carnaval do Rio de Janeiro, espaço de alegria e resistência se encontravam em cada batida. No palco, ela celebrava a diversidade e fazia da festa uma forma de ocupar espaços historicamente negados às mulheres negras.

“Ao defender a minha existência como uma mulher gorda, bissexual, preta, isso há tantos anos, quando nada desses assuntos era pauta ainda, coloquei meu corpo a esse serviço.”

Preta Gil em entrevista à Marie Claire.

Sua partida deixa um vazio, mas também um rastro de transformação. Preta nos ensinou que ser preta, ser mulher, ser livre é, sim, um ato político. E que viver com verdade é uma forma de revolucionar o mundo.