O Mapa da Fome é um levantamento feito pela ONU para identificar países onde a fome é grave. Um país é retirado do mapa quando menos de 2,5% da população está subalimentada, ou seja, com consumo insuficiente de calorias diárias.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (2025), o país conseguiu reduzir a fome para menos de 2,5% da população, um marco importante, resultado de políticas públicas como o novo Bolsa Família e o Plano Brasil Sem Fome. Mas, por trás desse avanço, ainda existe uma desigualdade estrutural que não pode ser ignorada.
Apesar dos avanços gerais, a fome e insegurança alimentar continuam afetando desproporcionalmente pessoas negras no Brasil.
A fome não atinge a população brasileira de forma igual. De acordo com dados da Rede Penssan, as famílias negras são as mais atingidas pela insegurança alimentar. Quase 1 em cada 5 lares liderados por pessoas negras vive em situação de fome, o dobro do índice entre famílias brancas.
Quando falamos de mulheres negras, segundo microdados das PNADs 2004, 2009 e 2013, POF 2017/2018 e PNADC 2023, o cenário é ainda mais grave: 22% delas enfrentam fome em seus lares, contra 13,5% das mulheres brancas e apenas 6,6% dos homens brancos. Esses dados escancaram como racismo e sexismo estruturais colocam mulheres negras no centro da vulnerabilidade.
A saída do Mapa da Fome é uma conquista coletiva, mas ela precisa ser acompanhada de políticas públicas que tenham recorte de raça e gênero. Se a maioria das pessoas que ainda passam fome no Brasil é negra, então precisamos garantir políticas com recorte racial e de gênero, que fortaleçam a produção de alimentos nos territórios periféricos, quilombolas, indígenas e urbanos, e que coloquem o combate à desigualdade no centro das ações públicas.