A Escola das Adolescências E a Necessária Perspectiva Racial nos Anos Finais do Ensino Fundamental

O Censo Escolar de 2024, mostra que quase 68,8% dos estudantes matriculados nos Anos Finais do Ensino Fundamental são negros. Isso nos faz concluir que, essa etapa de ensino marcada pela construção de identidades, consolidação de aprendizagens e elaboração de projetos de vida dos adolescentes, é de extrema importância um foco especial nas adolescências negras.

Essa deve ser uma premissa para as Políticas Públicas quando os dados mostram que, por exemplo, 24,3% dos estudantes brancos estão entre aqueles com nível de aprendizagem adequado em Matemática e esse número cai para drásticos 10,7% quando se trata de estudantes pretos. É ainda mais agudo entender que adolescentes pretos têm um desafio de garantir a própria existência quando correm 3 vezes mais chance de sofrer morte violenta quando comparadas as chances entre os adolescentes brancos. Talvez, por essas razões, adolescentes nas escolas de maioria de estudantes negros demandem que as mesmas incorporem aos seus currículos conteúdos e práticas sobre direitos, combate a preconceitos e discriminação.

Essas informações estão reunidas no Mapa de Dados do Instituto DACOR (www.mapadedados.institutodacor.ong.br) a partir de dados do INEP, Índice de Vulnerabilidade Juvenil e a Pesquisa Vozes das Adolescências (MEC) entre outras fontes que utilizamos para traçar um mapa sobre como as desigualdades afetam a trajetória dos adolescentes negros e suas perspectivas como pessoas, cidadãos, estudantes e futuros profissionais.

No último dia 5 de dezembro, tivemos a oportunidade de discutir essas questões e apresentara o Mapa de Dados no Encontro Formativo da Rede Nacional de Articuladores do Programa Escola das Adolescências (RENAPEA). O Programa é uma política pública induzida pelo MEC e Secretaria de Educação Básica (SEB) especialmente voltada para os Anos Finais do Ensino Fundamental. O Instituto DACOR atuou no encontro com a missão de trazer a perspectiva racial para ser integrada às discussões diversas relacionadas à implementação do Programa ao lado de organizações como Fundação Itaú Social, Instituto Reúna, Fundação Carlos Chagas, Fundação Roberto Marinho, Roda Educativa, Lepes USP, Unicef e outras.

Durante o evento, coordenado por Tereza Farias, defendemos que a perspectiva racial esteja presente de maneira central e seja definidora de políticas educacionais de modo que a escola seja, para adolescentes negras e negros, um lugar de aprendizagem, pertencimento, luta contra as desigualdades e onde encontrem segurança e reconhecimento de suas identidades, em diálogo profundo com aquilo que trouxe a Secretária Kátia Schwckardt durante o evento: “Quando falamos em Educação de qualidade para todos, é preciso considerar gênero, raça, territórios…E, então, fazer uma educação que seja verdadeiramente para todos.”

Por: Helton Souto